sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Saudade do meu PAI!!!

Vou compartilhar uma foto - uma das últimas dele - que gosto muuuuuito! Já chorei muito olhando esta foto tentando imaginar como seria tê-lo presente (fisicamente) nas nossas vidas nos dias de hoje! Saudade do meu PAI!!!



E como ele sempre falava: "SORRIA!!!"

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Depoimento - Petrúcio Codá dos Santos

Em maio de 1980, criamos, nós do DEPEA, em Belém uma associação de servidores da CEPLAC na Amazônia. Tal como na Bahia, colocamos para funcionar a nossa Associação dos Funcionários da CEPLAC, AFC-Amazônia. Com o apoio da CEPLAC-SECRE e dos colegas, adqurimos um pequeno sítio em Ananindeua-PA (na Grande Belém), descoberto por Eduardo Soeiro ( I.M.) e Odoaldo Passos, onde instalamos a nossa modesta mas acolhedora Sede Social e Recreativa.

Seus maiores atrativos eram, uma piscina fonte natural, um campinho de futebol, outro de voleibol, um play ground e um barzinho tipo "pagode chinês" onde todos os sábados, domingos e feriados degustávamos um carangueijo tok-tok com cerpinhas super geladas.
Além das peladas, do volei e do haltero-copismo praticado pelos adultos, nossos filhos também participavam das brincadeiras e jogos que para eles promovíamos.
Em um desses finais de semana promovemos um campeonato de futebol para a garotada - filhos dos associados - sem qualquer distinção e dentro da maior harmonia.

Hircio, na época Vice Diretor do DEPEA-CEPLAC, era um dos maiores frequentadores da Sede, assim como eu, que fui um dos fundadores e o primeiro presidente da AFC-A e os demais colegas de todos os níveis e categorias funcionais, acompanhados de seus respectivos familiares e eventuais convidados.
Naquela manhã, enquanto tomávamos nossa cerpinha no barzinho, dois times de guris, nossos filhos, disputavam uma das partidas do campeonato. Entre os atletas de um dos times, estava lá o Léo, Leonardo, filho de Hircio, que em determinado momento da partida, recebeu a bola de um parceiro, avançou em direção ao gol adversário e quando ameaçava chutar, levou um "carrinho" violento por trás, dado por um dos filhos de Antonio Dias de Moraes, o famoso "Curuba", operário de campo da nossa Estação Experimental "ERJOH". Antes que o juiz marcasse falta, Léo deixou a bola de lado e deu uma carreira atrás do filho do "Curuba", que foi preciso o Hircio entrar em campo, correndo atrás para evitar a briga dos dois mini-atletas, que parecia inevitavel. Mas tudo acabou bem e na paz. A carreira do Léo e a intervenção do Hircio serviram de comentário e galhofa no barzinho da AFC-A por muito tempo.

No mês de julho de 1981, com uma pequena ajuda financeira da CEPLAC, conseguida através do Tyrone Perucho (CEPLAC-BA) e com o apoio de Hírcio na direção do DEPEA, realizamos para nossa garotada a primeira Colônia de Férias da CEPLAC na Amazônia. Foi um grande sucesso, que contou com a participação voluntária de várias esposas de funcionários.

Durante os dois anos iniciais da vida da AFC-A, a direção do DEPEA prestigiou a nossa associação, geralmente através de Hircio Ismar Ferreira Santana, com os devidos poderes delegados pelo Diretor Geral - Frederico Alvares Afonso, o Fred que também sempre frequentava a nossa Sede Social, que segundo fiquei sabendo, foi alienada. Atualmente nossos colegas ceplaqueanos em atividade em Belém=PA construiram uma área de lazer no fundo do terreno da SUPOR-CEPLAC.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Depoimento Wildes - 09 de agosto de 2007

Querido Leo

Já lhe falei um dia, mas não custa repetir: seu Pai passou pela Terra com uma certa pressa, mas por onde passava ía sempre deixando um rastro de alegria e de felicidade.Era otimista, e foi o que se diz hoje em dia, uma pessoa "pra cima"!

Há poucos dias Hilmar comentava sobre o fato de Issinho não ter vivido esta era digital, não como a vivenciamos hoje. Lembrei então de um comentário dele, quando esteve aqui pela última vez: "os pais hoje em dia são quase analfabetos digitais, se comparados aos filhos". Em seu olhar "distante" percebí que ele viajara até Brasilia, e que pensava em você.

Se ele estivesse por aqui ainda, pelo menos em corpo físico, iria dizer sorrindo: "finalmente Hilmar está fazendo no quintal, uma Biblioteca como a da Dinda!" (lembrando a era Collor de Melo).É, quando ele veio aqui em Stella Maris pela primeira vez, vendo nosso quintal e conhecedor dos livros acumulados por nós durante esta vida, especialmente Hilmar, lembrou logo da Biblioteca que Collor mandou construir nos jardins da "casa da Dinda", como chamava a casa de sua madrinha, aí em Brasilia.

Issinho tb fez planos para a cunhada: devido ao trabalho social que desenvolvi em Itabuna e redondezas, e ao conhecimento de pessoas, adquirido através do meu emprego, ele achava que eu deveria me candidatar a Vereadora. Só para começar. Se eu tivesse seguido seu conselho, poderia hoje estar aí em Brasilia, perto de vocês e longe do litoral, do qual quero tanto me afastar nestes tempos de aquecimento global.

Sempre que me vem à mente sua imagem, um sorriso brota em meus lábios e penso cá comigo: quando me for, quero também a leveza de um sorriso, na face dos que se lembrarem de mim.

Pois é, como Issinho queria, estamos agora fazendo a Biblioteca no quintal, mas vai faltar a linda queda d'água que tinha na "Casa da Dinda".Vai faltar também Issinho na inauguração...

Um forte abraço para você e familia, da tia Wildes

Imagens


Essa placa foi uma homenagem feita pela SEAC (Itabuna-BA) na qual Hírcio foi presidente.

Depoimento Paulo Romeu - 17 de setembro de 2003

Hírcio Ismar (o Grande) e outras recordações universitárias.


Escola Agronômica da Bahia, Cruz das Almas, Março, l963. Fui o último a chegar; os outros quatro já se encontravam lá. Quarto nº sete, nós, entretanto, éramos "apenas" cinco. Àquela altura o alojamento já se encontrava repleto, tendo os veteranos previamente apossado-se dos melhores quartos e de todos os guarda-roupas. Após ter percorrido todo o alojamento aquele era o único quarto onde ainda havia uma cama não ocupada. Pedi licença e entrei. Os quatro outros ocupantes, com as malas espalhadas pelo chão, olharam-me, entreolharam-se, para mim era como dissessem: mais um, mas que jeito, afinal ainda resta uma cama; em seguida, ao meu ver sem opção, deram-me as boas vindas ao quarto sete. Coloquei minha mala em um dos cantos ainda disponível e passamos às apresentações.

Cada um de nós tinha vindo de uma diferente localidade e estávamos nos vendo pela primeira vez. Havíamos recentemente sido aprovados no vestibular, e agora, já cheios de sonhos e esperanças, ali chegamos com a finalidade de tornarmo-nos Eng.º Agrônomos, prepararmo-nos e capacitarmo-nos para um bom emprego e seguir na luta.

Eu, natural de Itabuna-BA, havia cursado os dois últimos anos do segundo grau num colégio adventista em Santo Amaro, São Paulo, em sistema de internato, onde acabei convertendo-me a tal seita religiosa. Havia tido muita sorte ao ter sido aprovado no vestibular na primeira tentativa, sem ao menos ter feito um cursinho preparatório.

José Alexandre, o Pêpê, (nome simplificado pelo qual passamos a tratá-lo em decorrência do seu apelido de calouro, o qual refería-se ao nome vulgar dos pêlos pubianos) tinha vindo da cidade de Serrrinha-BA. Era o mais manhoso dos cinco.Tinha o hábito de permanecer, quando não em aulas, o tempo todo deitado fingindo não estar sentindo-se bem, quando na realidade ali estudava; desse jeito tentava evitar os trotes. Esse hábito ele conservou mesmo depois de ter passado o período de trotes, o que levava-nos a comentar entre nós que o Pêpê encontrava-se em estado de gestação; de vez em quando lhe perguntávamos quando iria nascer a criança.

Evandro Peixoto, o Foquinha, como passamos a tratá-lo devido ao seu avantajado nariz, de Salvador-BA, sincero, com um grande coração, tornou-se logo amigo de todos; amizade essa sempre reafirmada nas várias vezes que nos reencontramos durante nossa jornada através de nossas vidas.

José Francisco, Zé Biquí, com seus proeminentes lábios, natural de Petrolina-PE, bom em jiu-jitsu e que nos fins de semana costumava tomar "uns" tragos de cachaça; igualmente a "Foquinha" amigo sincero, pau pra toda obra, com o qual no último ano passei a dividir o melhor quarto do alojamento, com guarda-roupas individuais e tudo. Convivíamos na maior harmonia, apesar de às vezes, geralmente às segundas feiras, acordar-me de madrugada ao chegar da rua, e eu ter que dormir o resto da noite sentindo um cheiro forte de "destilada" no ar. Certa vez uma prova caiu numa segunda feira; confessou-me tê-la realizado completamente embriagado. Foi o único da turma do quarto sete que não veio trabalhar na CEPLAC. Nunca mais voltamos a encontrar-nos; por onde andará o Zé e o quê estará aprontando por aí!? A última notícia que tive dele foi que estaria trabalhando lá prás bandas de Araripina, uma cidadezinha do interior de Pernambuco, onde arranjara uma namorada, desde o tempo de estudante. Lembro-me de uma carta que o Zé recebera da dita cuja, ainda quando companheiros de quarto, na qual ela implorava: ...-Zé, pelo leite que você mamou no peito de sua mãe, venha passar o São João comigo...-.O Zé parece não ter resistido à tamanha paixão; após terminado o curso de agronomia foi ao tal São João em Araripina, e de lá não mais voltou. Acredito que tenha constituído família por lá.

Hírcio Ismar, que passamos a tratá-lo por -Grande-, devido ao seu quase um metro e noventa de estatura, natural de Petrolina - PE; por ser o último mencionado não quer isso significar que tenha sido ele o menos interessante, nem quem se tornou menos próximo à minha pessoa, dentre os ex-companheiros do quarto sete. Muito pelo contrário; deixei para referir-me à sua pessoa no final devido ao fato de querer aqui lhe prestar uma homenagem especial. Apesar de haver-nos conhecido e termos que morar juntos naquelas precárias circunstâncias, cinco em um mesmo quarto sem ao menos um guarda- roupa, tornamo-nos de imediato bastante próximos. Afinal, eu e o Hírcio tínhamos algo em comum: Tínhamos escolhido a mesma profissão, o destino levou-nos à mesma Universidade e a compartilhar o mesmo quarto, e lembro-me que, curiosamente, quase sempre obtíamos as mesmas notas. Apesar do confinamento casual ao qual fôramos submetidos não me recordo de nenhum desentendimento entre nós durante todo aquele tempo que compartilhamos nossa moradia ou mesmo pelo resto de nossa convivência profissional.

Sempre unidos, protegendo-nos uns aos outros enquanto calouros, dos trotes, se não violentos pelo menos curiosos, (como o tradicional "banho de cu pra cima”,quando tínhamos que ficar de cabeça para baixo, pernas para cima, -plantando bananeira- enquanto a água do chuveiro lavava a nossa "consciência,"- como se dizia-. Isolados naquele "Campus", quase sem contacto com o sexo oposto, com pouquíssimas opções de lazer, a turma do quarto sete saiu-se muito bem em todos aqueles desafios.

Adventista do Sétimo Dia, o mais novo da turma, na época com dezoito anos, seguindo os preceitos da religião a qual professava, eu não bebia, não freqüentava cinemas, festas dançantes e guardava a castidade, diferentemente dos demais colegas os quais faziam tremenda gozação com respeito ao meu comportamento, segundo eles, peculiar. Chegaram mesmo a criar um trote especial para mim enquanto calouro, afixando a foto de uma mulher totalmente pelada, retirada da revista playboy, na cabeceira da minha cama, a qual era obrigado a ficar observando, durante dez minutos, todos os dias ao acordar; a finalidade do tal trote era fazer-me quebrar a abstinência sexual. Os colegas de quarto achavam tudo aquilo muito engraçado e divertiam-se às minhas custas. Lembro-me especialmente do Hírcio, que curtia a valer aquela cena de todas as manhãs, quando um veterano vinha logo cedo nos acordar, perturbando a todos nós, especialmente a mim, fazendo-me cumprir aquela "penitência" diária. Devido a minha formação religiosa, depois de certo tempo os companheiros de quarto começaram a preocupar-se comigo, supondo que estaria chocado com tais tipos de trotes, os quais seriam por mim considerados por demais violentos, imaginando que os mesmos podessem afetar-me psicologicamente. Recordo-me particularmente do Hírcio, que apesar de achar tudo aquilo muito divertido, às vezes mostrava-se de alguma forma preocupado, chegando mesmo certa ocasião a conversar com alguns veteranos na tentativa de fazer moderarem os trotes para comigo. Os veteranos não deram, entretanto muita bola para sua tentativa de intervenção à qual retrucaram: "animal" (assim eram tratados os calouros) tem mais é que fazer penitência para que possa transformar-se em gente. Continuei então a tal “penitência” até 13 de maio, dia da abolição da escravatura, quando finalmente se deram por encerrados os trotes. Antes, porém daquela data, passado-se algumas semanas do início das aulas, os colegas de quarto chamaram-me para uma conversa. Percebi logo que o Hírcio, o qual dirigiu-me inicialmente a palavra, tinha tomado a iniciativa daquela reunião e liderava o grupo. A conversa girava em torno das preocupações a mim dispensadas, principalmente das do Hírcio, com respeito aos trotes a mim aplicados. O problema era que, apesar da minha religiosidade, aparente ingenuidade, e ser o mais jovem da turma, haviam percebido que eu era uma pessoa esperta, bastante amadurecida, psicologicamente muito equilibrado e com senso de humor muito aguçado; haviam chegado portanto a conclusão que nada daquilo afetava-me, e que no fundo eu estava mesmo era divertindo-me às custas de todos; tanto da deles, meus companheiros de quarto, com suas preocupações, como das dos veteranos, com seus trotes tolos. Em resumo, eu estava curtindo a cara de todos desde o início, e agora que percebiam, sentiam-se de certo modo ofendidos, como se estivessem passando por bobos, todo esse tempo. Eu deveria ter deixado isso mais claro para eles desde o início, lamentavam.Tive que confessar que tudo aquilo era verdade, que aqueles trotes não estavam afetando-me em absoluto. Agradeci pela preocupação que me vinha sendo dispensada; sentia muito, não esperava que aquilo gerasse ofensas, afinal não sabia que suas preocupações para comigo fossem assim tão sérias. Desculpas apresentadas, o dito pelo não dito, e nossa amizade tornou-se ainda mais firme. Só a convivência leva as pessoas a se conhecerem melhor e havia apenas três semanas que encontráramo-nos pela primeira vez. Assim, aos poucos, fomos conhecendo melhor uns aos outros enquanto nossa amizade crescia a cada dia conforme maior ou menor afinidade tinha-se um pelo outro.

A partir daquele momento passei a conhecer um pouco mais cada um de meus companheiros de quarto. Fiquei então sabendo quem tinha maior sensibilidade no que diz respeito ao relacionamento com o próximo, quem tinha maior percepção da natureza ou psicologia humana, quem se omitia, quem encarava situações delicadas, por mais simples ou mais complexas que fossem, e finalmente, os que optavam por dizer a verdade, custe o que custasse, doa em quem doer. Foi dessa maneira, através de uma situação aparentemente banal, que vi no Hírcio, por sua sinceridade, por sua percepção e sensibilidade, por sua coragem de encarar e procurar resolver através de diálogo situações pendentes, por mais delicadas ou simples que fossem, um autêntico líder e um amigo sincero. Percebi naquele exato momento que, profissionalmente, caso imprevistos negativos não ocorressem em sua vida, ele iria mais longe que qualquer um de nós; e foi o que realmente ocorreu.

Após o término do curso de agronomia, em 1966, quatro dos cinco moradores do quarto sete, entre esses o Hírcio e eu, passaram a trabalhar na CEPLAC-BA, onde ingressamos em 1967. Permanecemos então, nós e todos os demais contratados pela Ceplac naquele ano, cerca de vinte e cinco agrônomos, trinta dias em curso pré-serviço, na EMARC (Escola média de Agricultura da Região Cacaueira, CEPLAC), cidade de Uruçuca, a fim de familiarizarmo-nos com o cultivo do cacau. Posteriormente fomos enviados para diferentes cidades do interior da região cacaueira da Bahia onde passamos a trabalhar como extencionista rurais dedicados quase que exclusivamente ao cultivo do cacau. Eu fui para a cidade de Coaraci onde permaneci por um ano, quando recebi um convite para trabalhar no CEPEC (Centro de Pesquisas do Cacau) onde permaneci durante toda minha vida profissional, trabalhando em pesquisa, inicialmente na área de óleos e gorduras vegetais, posteriormente com resíduos de pesticidas e controle de qualidade de defensivos agrícolas.

Hírcio, após o curso pré-serviço foi exercer seu cargo de extencionista rural, inicialmente na cidade de Ubaitaba onde permaneceu por cerca de três anos, quando foi então transferido para o CEPEC. Ali exerceu a função de pesquisador na Divisão de Sócio-economia até 1977 quando finalizou seu curso de Mestrado, na Universidade do Estado do Ceará, na área de economia agrícola com defesa da tese “A Renda Cessante em Renovação de Cacaueiros”. Hírcio foi então transferido para Belém assumindo a Vice-Diretoria do Departamento da Amazônia. Após ter passado pelo cargo de Diretor desse Departamento foi deslocado para Brasília indo trabalhar na área de planejamento, sendo posteriormente nomeado Secretário Geral da Ceplac.

Enquanto locado em Belém, quando de visita ao CEPEC, normalmente a serviço, Hírcio sempre me procurava; além do motivo de rever seu antigo colega de turma e companheiro de quarto, nessas ocasiões procurava atualizar-se, mantendo-se sempre bem informado com respeito aos resultados mais recentes das pesquisas ali desenvolvidas. Lembro-me particularmente de uma pesquisa, por mim realizada, sobre “A influência do clima na composição química e características físicas da manteiga de cacau das diferentes regiões produtoras”, sobre a qual conversamos longamente. Julgando-a de grande impacto sobre o valor de nosso produto, queria saber detalhes sobre a mesma. Esse seu interesse e consideração pelas coisas da nossa Instituição chamavam-me à atenção, visto que, a maioria dos colegas, às vezes trabalhando no próprio CEPEC, pouco ou quase nenhum interesse demonstrava pelas pesquisas por outros pesquisadores ali realizadas. Percebia assim, por esses e outros fatos, que o Hírcio não era um funcionário qualquer, sentia-se parte da própria CEPLAC. Não foi, portanto surpresa para mim, quando soube de sua nomeação para secretário Geral da CEPLAC, cargo máximo daquela Instituição.

Uma das últimas oportunidades em que estive com o Hírcio foi por ocasião de uma de suas visitas ao Cepec, já exercendo o cargo de Secretário Geral, quando convocou uma reunião com os chefes de Divisões e de alguns setores, da qual participei. Assim encontrávamo-nos novamente. Ele, desta vez, como autoridade máxima da Instituição, eu como simples pesquisador. Agora queria, além de um contato direto com os pesquisadores, informar-se pessoalmente não somente sobre o que eu estava pesquisando mas do andamento e planejamento das pesquisas de todo o CEPEC. Para isso havia convocado aquela reunião. Senti durante aquele, talvez nosso derradeiro encontro, satisfação por vê-lo ir tão longe, orgulho de ter sido seu colega de turma, companheiro de quarto, e acima de tudo continuar com a mesma amizade dos velhos tempos, quando juntos estudávamos. Senti naquela ocasião que a satisfação daquele reencontro era recíproca, pois isso ele deixava escapar, diante de todos os outros pesquisadores, quando a mim dirigia a palavra. Sim, pensei naqueles momentos, o alto cargo não o havia afetado em nada, o que não ocorre com a maioria das pessoas; o Hírcio continuava o mesmo: aberto ao diálogo, nada de arrogância; simples, sincero, conciliador, capaz, um grande coração, mas duro quando necessário; um administrador competente.

Hírcio ocupou o cargo de Secretário Geral até 1995, quando sua vida foi ceifada bruscamente por um câncer.

Presto assim, por meio dessas recordações aqui registradas, uma homenagem ao colega de Escola e de trabalho Hírcio Ismar, quem para engrandecer a CEPLAC e o país tanto deu de si. Fisicamente ele nos deixou ainda bastante jovem, mas permanecerá para sempre nos corações daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, principalmente nos daqueles que tiveram o privilégio de com ele conviver mais proximamente.


Itabuna, 10 de agosto de 2003
Paulo Romeu F. Berbert

Biografia

Nascido no Sertão de Pernambuco, viveu, ainda na primeira infância, acompanhando a carreira de sua Mãe, um pouco em outros locais do Sertão, São José do Belmonte, Bodocó e Cristália, distrito de Petrolina, e finalmente na sede deste município, onde teve a sua formação básica, vivendo na casa construída em 1872 (provavlemente) por seus avós maternos e onde nasceram sua Mãe, Ivone e seus irmãos.



Hírcio Ismar nasceu a 9 de agosto de 1940, em Santa Cruz da Venerada, distrito de Ouricuri, Pernambuco, hoje município independente. De sua Mãe, Professora Ivone, filha do Cel. Marcelino José de Sant’Anna e Maria Francisca Sant’Ánna (Sinhazinha) , herdou o sobrenome Santana e do seu Pai, Hermes Araújo Ferreira, filho de José Gomes Ferreira (José Lino) e Josina de Araújo Ferreira (Santa) Santa, o segundo sobrenome, Ferreira.



Estudou Ginásio e Científico no Colégio D. Bosco, tradicional, da Diocese de Petrolina, dirigido por tanto tempo, inclusive no de Hircio, pelo Pe. Manoel de Paiva Neto. Em torno de 1957 foi campeão de Futebol na Liga Petrolinense de Futebol, que naquele ano voltou a se organizar. Foi Centro-Médio, posição que correspondia então à do príncipe Danilo, do Vasco e da Seleção. Seu treinador no Náutico (foto) campeão foi o grande Jalves, ex-atleta profissional do América Futebol Club, do Rio de Janeiro e, antes, do Botafogo, de Salvador.


Jalves era um zagueiro clássico, cotado para a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1950, no Brasil. De 1963 a 1966 fez seu curso de graduação em Agronomia, na Escola de Agronomia da Bahia, em Cruz das Almas. Como muitos de sua turma, foi trabalhar na CEPLAC – Comissão Executiva do Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira, já no ano de 1967, dez anos depois de instituída aquela Comissão pelo presidente Juscelino Kubitschek. Iniciou-se na Profissão como Extensionista Rural, no Escritório Local de Ubaitaba.


Hircio teve toda a suas carreira na CEPLAC. Em Ubaitaba inciou-se nas lides extensionistas e técnicas da cacauicultura. E estabeleceu laços pessoais com colegas de trabalho e profissão e com pessoas da comunidade. Casou-se em 1970 com Yara Caffé Lima, tendo-lhe nascido os filhos Cláudia, em Itabuna, Bahia e Leonardo, em Petrolina, Pe. Foi trabalhar na Pesquisa Agrícola, no CEPEC - Centro de Pesquisas do Cacau, da mesma CEPLAC, na área de Economia Agrícola. Daí fez curso de Mestrado na Universidade Federal do Ceará – UFCe, em Economia Rural/Agrícola. Foi convocado para trabalhar no Programa de Cacau da Amazônia, sendo durante algum tempo um dos dirigentes daquele trabalho. Por conta disso, visitou e supervisionou os pólos cacaueiros da Amazônia Legal. Rondônia, Pará, Mato Grosso. Fixou residência em Belém do Grão Pará. Na etapa seguinte trabalhou em Brasília, na sede da CEPLAC. No Distrito Federal foi dirigente da CEPLAC e exerceu a função de Planejamento.

A 29 de novembro de 1995 veio a falecer em Brasília. Seus familiares já eram brasilienses. Leo e Cláudia ali se formaram. Junto com os pais, --Yara e Hircio,-- se acostumaram a amar Brasília. Todos apreenderam a lição do Candango. Que da solidão deste Planalto Central, grandes decisões nacionais serão tomadas. Mas pequenas e familiares também. E assim todos permaneceram em Brasília. Yara. Cláudia e Leo nas lidas integradas da vida humana. Hírcio, traspassado o mistério da transição, devolveu ao solo generoso de Brasília, ao ar generoso de Brasília os últimos elementos de que fez uso para cumprir suas tarefas. Mas ficou como lembrança viva e sutil nos muitos pontos em que traçou sua trajetória brilhante, alegre, construtiva, destemida. Hircio se foi no seu caminho confiante. Ficaram, com seus contemporâneos e na sua trajetória, lições de vida, fé, construções.

Blog criado...

Pronto! Blog criado. Agora vou disponibilizar o que tenho na homepage aqui e esperar as visitas e comentários.
Grandre abraço a todos,
Leonardo